SANDRA RODRIGUES CABRAL, PRESIDENTA DO SINTEGO (1990-1993)

SANDRA RODRIGUES CABRAL, PRESIDENTA DO SINTEGO (1990-1993)

Desde 1978, acompanhei todas as grandes lutas do CPG, independente de cargo ou posição, e tive a alegria e honra de participar da fundação do SINTEGO, em 1988, e ser presidenta dessa entidade de 1990 a 1993. A luta, já disse um poeta, é um eterno recomeço.”

DEPOIMENTO

Sou neta e filha de mulheres muito fortes. Meu exemplo, minha referência são elas, mulheres guerreiras que sempre me ensinaram que mulher tem que estudar, ser independente, autônoma, dona de seu nariz.

Eu nasci em Jataí, em 1956. Em 1971 me preparei para a admissão no Colégio Lyceu de Goiânia, para cursar o 1o ano do 2o grau, como era chamado na época, quando descobri que era radicalmente pobre. Minha mãe não tinha sequer como pagar minha passagem.

Em 1975, passei no vestibular e vim pra Goiânia, com a cara e coragem. Fui morar na casa de minha amada tia avó Irota, movida pelo meu desejo monstro de estudar. E minha vida mudou.

Lá encontrei, além de muita solidariedade, apoio, carinho, amor, um mundo novo: a política. Meu primo querido, Elio Cabral, preso político, contagiava de força e coragem aquela casa e família pra lutar por justiça, respeito, direitos e democracia.

Em 1976 comecei a dar aulas de matemática no Colégio Estadual Bandeirante. E logo descobri o Centro dos Professores de Goiás – CPG, por meio de um convite para uma reunião – cancelada por conta da repressão – para a qual os colegas me indicaram.

Um dia conheci o Niso Prego, que estava à frente do Movimento de Valorização do Professor, mesmo na ditadura, ao lado de Osmar Magalhães, Delúbio Soares, Cleovam Siqueira e dezenas de companheiros e companheiras, lutando pela educação e para que o CPG deixasse de ser correia de transmissão do governo. A Secretaria de Educação despachava de sua sede.

A luta foi vitoriosa, no entanto o CPG perdeu toda sua estrutura: veículos, Casa do professor do Interior montada, máquinas, gabinete dentário e até as fichas dos filiados, além do corte do repasse do dinheiro dos filiados. O CPG transformou-se em uma caixa de sapato, com algumas poucas fichas de filiados, mas com uma legião de professores e professoras, com uma garra e destemor nunca vistos.

Um mar de solidariedade invadiu nosso cotidiano, desde antigos funcionários do CPG, que propuseram trabalhar mesmo sem receber – fazíamos vaquinha nas assembleias e a arrecadação era repassada a eles – a empréstimo de uma sala, pelo Sindicato dos Professores da rede privada – SINPRO; ao apoio de professores da UFG e UCG, hoje PUC; das Assistente Sociais, de padres, advogados, Entidades Estudantis, de pais de alunos e de amplo setores da sociedade, além de uma militância exemplar na qual orgulhosamente me incluo.

Éramos mais de uma centena de professores e funcionários voluntários, que após cumprir sua jornada, visitavam escolas, viajavam pelo estado, às custas da solidariedade, inclusive da categoria, que em cada cidade corria o chapéu pra comprar a nossa passagem para a próxima, construindo aquilo que depois entendemos ser um novo sindicalismo.

Assim, sem nenhuma estrutura, em 1979, fizemos uma greve que durou 34 dias – Goiás foi o 1º Estado a fazer uma greve da educação, na ditadura – quando conquistamos um reajuste de 65% e após 6 meses, outro de 55%. Ocasionando, também, demissões de cerca de 200 lideranças, inclusive a minha. Após um ano, o CPG conquistou na justiça, nossas readmissões.

Não nos intimidamos, sequer com a tragédia ocorrida em 11 de novembro de 1983, quando foi sequestrado, torturado e assassinado o professor Gervásio Santana Dourado, liderança do CPG em Aparecida de Goiânia, cujo “crime” foi lutar por melhores salários e condições de trabalho.

Em sua honra, seguimos lutando. Por essa época vimos que a luta de São Bernardo do Campo, liderada por um barbudo destemido e gente com o a gente, o Lula, era muito parecida com o que estávamos sonhando em Goiás.

Aqui e lá, a gente queria ter o direito de se organizar, de ter nossos Sindicatos livres, sem pelegos, sem a tutela do Estado e os mais amplos possíveis, o que ocorreu com o CPG abraçando todas as funções desempenhadas na escola, como o administrativo, merendeiras, faxineiras, orientadoras, supervisoras, cujas entidades, além de desapego de suas estruturas, tiveram uma visão estratégica exemplar, compreendendo que uma andorinha só não faz verão. Assim nasceram as bases para a Central Única dos Trabalhadores – a maior Central Sindical da América Latina e a 5a maior do mundo.

Desde 1978, acompanhei todas as grandes lutas do CPG, independente de cargo ou posição, e tive a alegria e honra de participar da fundação do SINTEGO, em 1988, e ser presidenta dessa entidade de 1990 a 1993. A luta, já disse um poeta, é um eterno recomeço.

Conto com a garra do meu povo do SINTEGO para me fazer recomeçar sempre que preciso. Digo isso porque sei que essa nossa história de luta vem entrando no DNA das novas lideranças, que seguirão fazendo a luta com um SINTEGO bravo e forte pelos próximos anos. Longa vida ao nosso querido Sindicato!

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